[wpml_language_selector_widget]

LENDA DA MOURA CASSIMA

Esta lenda passa-se em 1149 antes da reconquista de Loulé aos Mouros por D. Paio Peres Correia.

O governador mouro tinha três filhas muito bonitas: Zara, Lídia e Cássima, a mais nova. Diz a lenda que este governador era um homem dotado do dom da magia e, por isso, reconheceu que D. Paio Peres Correia, que se encontrava no exterior das muralhas da cidade, estava prestes a entrar e a conquistar a cidade. Assim, na penúltima noite, enquanto todos dormiam, o governador levou as suas filhas até uma fonte na zona nascente da cidade, aberta junto a um canavial, onde as encantou, para as preservar de um possível cativeiro.

Na noite seguinte, o governador conseguiu embarcar em Quarteira e fugir para Tânger deixando as filhas encantadas.

Contudo, o homem não conseguia viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas.

Um dia, apareceu em Tânger um “carregamento” de escravos vindos de Portugal onde se encontrava um homem de Loulé. O governador comprou-o para poder negociar com ele. O escravo era carpinteiro e o mouro perguntou-lhe se ele estava disposto a voltar ao algarve para junto da sua família tendo em troca que lhe fazer apenas um favor. O cristão concordou mas respondeu que não seria capaz de voltar nem por terra, nem por mar. O mouro disse-lhe que para chegar ao Algarve bastar-lhe-ia somente a prudência acompanhada de diligência. Mostrou-lhe um alguidar com água e disse-lhe:

“_Terás que te colocar daquele lado do alguidar e dar um salto para trás. Se o saltares de um pulo, encontrar-te-ás imediatamente às portas da tua vila; se não o conseguires saltar, cairás afogado no mar. Deverás também levar estes 3 pães que contem a chave para o desencantamento das minhas filhas. Se as conseguires desencantar receberás a satisfação condigna.”

O mouro explicou ao cristão o que ele deveria fazer com os pães a fim de libertar as suas lindas filhas do encantamento a que foram sujeitas e que o deveria fazer ma véspera de S. João.

O cristão hesitou, mas o amor e a saudade da família decidiu-o e aceitou ser prudente e diligente a desempenhar a tarefa.

O carpinteiro aproximou-se do alguidar com os alforges às costas, segurou-os com energia, assim como aos pães e quando o governador ordenou: “Salta!” O carpinteiro deu um salto e desapareceu.

Em seguida, o velho governador dirigiu-se para a Mesquita e foi ajoelhar-se em profundo recolhimento de espírito.

O carpinteiro chegou a sua casa como num passe de mágica, abraçou a mulher e, logo de seguida, foi até um canto da casa e escondeu os 3 pães dentro de um baú.

Passado algum tempo, a mulher descobre os pães e fica desconfiada por ele estarem escondidos. Pensando que poderão esconder um tesouro, pega numa faca a fim de descobrir o que poderá haver lá dentro. Quando espeta a faca num deles ouve de imediato um grito e as suas mãos enchem-se de sangue vindo do interior do pão.

Aterrorizada larga o pão, fecha o baú e não diz nada ao marido.

Na véspera de S. João o carpinteiro só pensava em cumprir a promessa feita ao ex-governador.

Assim que pode, pegou nos pães e dirigiu-se a nascente até à fonte. Quando chegou a altura certa, atirou o 1º pão para a fonte e gritou: “Zara”! Uma figura feminina (a mais velha das irmãs) sobe no espaço e desaparece diante dos seus olhos. Logo de seguida atira o 2º pão e grita: “Lídia”! Outra bela rapariga sobe e desaparece no ar diante dele. Por fim atira o 3º pão e grita pela filha mais nova do ex-governador, mas nada acontece. Ele volta a gritar: “Cassima”! E uma jovem moura aparece-lhe, agarrada ao gargalo da fonte, e diz-lhe:

“_ A culpa é da tua mulher. Cortou-me a perna com uma faca. Nunca mais vou sair daqui.”

Ele pede-lhe desculpa em nome da sua mulher, e Cassima diz-lhe que a perdoa e atira um cinto bordado a ouro para as mãos do carpinteiro pedindo-lhe que o ofereça à esposa, uma vez que ela jamais poderá sair daquela fonte. Depois desaparece no interior da fonte…

No caminho, o carpinteiro para ver melhor a beleza do cinto coloca-o em redor de um tronco de um grande carvalho, mas de imediato a árvore cai por terra, cortada cerce pelo cinto fantástico. Benzendo-se e rezando o carpinteiro compreende tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!…

Este correu para casa abraçou a mulher e nessa noite não conseguiu dormir com medo que a moura ali aparecesse, mas isso nunca aconteceu, porque tal como Cassima lhe dissera, nunca mais poderia sair daquela fonte.

Ainda hoje a moura Cassima vive naquela fonte e, segundo dizem, de vez em quando, – principalmente nas vésperas de S. João – ela consegue agarrar-se ao gargalo da fonte, e mostrar sua beleza, e os que se aventuram a ir até lá… ouvem-na chorar a sua miséria.